Chefe do Exército foi comunicado previamente de participação de Pazuello em ato com Bolsonaro, mostra processo que tinha sigilo de 100 anos

Foto: André Borges/AFP

Alvo de processo disciplinar por infringir as regras do Exército, a participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello em um ato com o então presidente Jair Bolsonaro, no dia 23 de maio de 2021, foi previamente comunicada ao comandante da Força da época, general Paulo Sérgio Nogueira. A informação consta no procedimento interno aberto pelo Exército, que havia ganhado sigilo de 100 anos na administração Bolsonaro, mas foi divulgado nesta sexta-feria por determinação da Controladoria-Geral da União (CGU).

Na ocasião, o ex-ministro participou de uma motociata ao lado de Bolsonaro no Rio de Janeiro. Depois, os dois discursaram em cima de um carro de som. Na época, Pazuello era general da ativa do Exército. O processo disciplinar foi aberto porque militares da ativa não podem se manifestar politicamente. O ex-ministro, contudo, não recebeu qualquer punição e, no ano passado, foi eleito deputado federal com a segunda maior votação no estado.

Em sua defesa no processo, só agora revelado, Pazuello afirma que informou “por telefone no sábado que iria ao passeio no domingo, a convite do presidente”. O general disse ainda ter aceitado participar do evento devido aos “laços de respeito e camaradagem” que tem com Bolsonaro.

A participação em motociatas com apoiadores se tornou uma marca da campanha eleitoral de Bolsonaro, que não conseguiu se reeleger ao Palácio do Planalto, mas ajudou o PL, seu partido, a eleger a maior bancada da Câmara neste ano, incluindo Pazuello.

No discurso que contou com a presença de Pazuello, Bolsonaro fez referência à candidatura do então ministro da Infraestrutura e atual governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, o que de fato ocorreu no ano seguinte. O então presidente também afirmou que era preciso “agradecer à nossa direita”.

No documento, ao analisar o caso, o então comandante do Exército confirma ter recebido a comunicação prévia, embora não cite se houve ou não uma autorização formal para a participação do ex-ministro no ato. “Insta saliente, inicialmente, que o oficial-general em tela efetivamente comunicou a este comandante que se deslocaria à cidade do Rio de Janeiro, a fim de participar do passeio motociclístico, a convite do senhor Presidente da República”, escreveu.

Trecho do procedimento aberto contra o ex-ministro Eduardo Pazuello em que o então comandante do Exército admite ter sido comunicado previamente — Foto: Reprodução
Trecho do procedimento aberto contra o ex-ministro Eduardo Pazuello em que o então comandante do Exército admite ter sido comunicado previamente — Foto: Reprodução

Ao justificar o arquivamento do processo, Nogueira afirmou ainda considerar que a participação de Pazuello no ato de Bolsonaro não teve “viés político-partidário”, porque ele falou de “forma improvisada” e apenas “cumprimentou os presentes e enalteceu o passeio” realizado. Dez meses depois, Nogueira deixou o comando do Exército para ser ministro da Defesa de Bolsonaro.

Por: Globo

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